PDF Imprimir E-mail

As melhores pesquisas escolares sobre a Biodiversidade Amazônica

O resultado final será anunciado nesta sexta-feira, dia 16, quando acontece a entrega da premiação. Os estudos apresentam novas ocorrências de espécies em fragmentos florestais urbanos e valorizam o casamento da ciência com o saber popular.

 

Agência Museu Goeldi – Alunos, professores e escolas do Pará vão conhecer na próxima sexta-feira, dia 16, os estudos classificados nos primeiros lugares da IV Edição do Prêmio José Márcio Ayres Para Jovens Naturalistas (PJMA). O anúncio será feito às 10h, no Auditório Alexandre Rodrigues Ferreira, localizado no Parque Zoobotânico do Museu Goeldi.

Estudantes do Pará aceitaram o convite lançado pelo Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e a organização não-governamental Conservação Internacional (CI-Brasil) e mergulharam em livros; foram à praça, parques, jardins botânicos, feiras, casa de ribeirinhos e laboratórios; observaram plantas e animais, entrevistaram pessoas de todas as idades; sondaram hábitos populares, formularam hipóteses, fizeram testes, avaliaram, tiraram conclusões, escreveram suas experiências e, alguns, as defenderam frente a banca de especialistas. A IV Edição do Prêmio José Márcio Ayres Para Jovens Naturalistas movimenta no Pará o universo escolar para investigações sobre a diversidade biológica da Amazônia.

Entre os 30 trabalhos inscritos, nove estudos foram considerados para a fase final e seus autores (onze alunos da sexta série do ensino fundamental a 3ª série do ensino médio) apresentaram suas observações para a Comissão Julgadora do PJMA, formada pelos doutores Mario Jardim e Raimunda Vilhena Potiguara (ambos da Coordenação de Botânica do Museu Goeldi), Orlando Tobias (Coordenação de Zoologia do Museu Goeldi), Renata Valente (Gerente do Programa Amazônia da CI-Brasil) e Maria de Jesus Fonseca (Coordenadora do Núcleo de Estudos em Educação Científica, Ambiental e Práticas Sociais da Universidade do Estado do Pará).

Os alunos se dedicaram à pesquisa da diversidade das espécies arbóreas da Praça Batista Campos, das flores tropicais nos jardins botânicos de Belém, da composição florística de pteridófitas (vegetais vasculares sem sementes) em fragmentos florestais, de subfamílias de formigas em áreas urbanas sob influência de áreas florestadas, do fruto do açaí e sua importância na alimentação dos amazônidas, de alterações no micro clima urbano em Carajás, da aplicação do muco de lesma no melhoramento da epiderme de humanos, do uso do turu (molusco encontrado em manguezais) na alimentação e da vida da onça pintada em cativeiro.

Os candidatos a Jovens Naturalistas - Ansiedade, euforia, nervosismo e um pouco de tranqüilidade era o misto de emoções que predominava no espaço onde se concentraram os alunos finalistas da IV Edição do Prêmio Marcio Ayres, em companhia de seus familiares e orientadores, à espera do momento de apresentar oralmente seus trabalhos para a Comissão Julgadora do PJMA.

A reportagem da Agência Museu Goeldi capturou histórias que demonstram como é importante olhar a iniciação científica na escola como um processo de formação, a necessidade de investir na produção de material de divulgação científica sobre a biodiversidade amazônica para apoio a pesquisa escolar e que o sucesso de um estudo está relacionado a curiosidade e dedicação de alunos, orientadores e diretores, além do apoio da família.

As pesquisas do ensino fundamental

Observando formigas - Animados, os alunos Erick Santos, Vítor Leitão e Felipe França explicaram a Agência Museu Goeldi seu estudo de subfamílias de formigas encontradas em uma praça do bairro Curió, situada próximo ao Parque Ambiental do Utinga, no município de Belém. A equipe é matriculada na 8ª série  da Escola Intelecto, estabelecimento particular de ensino que conseguiu o feito de classificar dois trabalhos da mesma série.

O grupo de observadores de formigas foi orientado pela professora Lorena Araújo, bióloga, formada há 2 anos pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia-Pará, e que ministra aulas de ciências no Intelecto. Lorena, que já havia participado de pesquisas em sua graduação e hoje se interessa por estudos genéticos, soube da existência do Prêmio através de um professor amigo, achou interessante a iniciativa e foi ao Museu Goeldi buscar mais informações. Ela leu o Manual do Jovem Naturalista, onde se encontra também o regulamento da premiação, e divulgou o concurso na escola. Erick, Vitor e Felipe aceitaram o desafio e os quatro (os três alunos e a orientadora), com o apoio da Escola, buscaram um tema e um local para pesquisar e trabalhar.

O critério adotado para selecionar o local da pesquisa de campo era um ambiente híbrido entre o urbano e o natural. A Praça vizinha ao Parque Ambiental do Utinga, mantido pelo Governo do Pará, era a escolha mais atraente e acessível. A escolha do tema foi mais demorada.

Inicialmente a equipe queria estudar aves, mas, em face da dificuldade de obter um atlas de avifauna e pela orientadora ter um amigo que havia escrito um TCC sobre formigas, o grupo optou por abordar esse tema. Para possibilitar o estudo, a professora consultou o Museu Goeldi e conseguiu uma chave de identificação de espécies.

O método aplicado para o estudo foi relativamente simples: um copo de plástico era posto ao nível do solo com álcool dentro. As formigas caiam dentro do copo e eram observadas com uma lupa simples.

Quando questionados sobre o interesse em continuar com pesquisas, os alunos Erick, Vitor e Felipe responderam afirmativamente, no entanto, desejam continuar em outra área, não mais com formigas. Eles explicam que não foi simples fazer essa pesquisa, embora tenha sido mais prazeroso que difícil.

Lorena Araújo avalia que o bom resultado alcançado com a classificação do estudo da equipe do Intelecto para a fase final da IV Edição, veio, sobretudo, em função da grande concentração e interesse dos alunos. Ela cita também outro fator importante: a Escola ajudou cedendo o espaço para trabalhar.

A professora Lorena acha importante ressaltar que o Prêmio constrói uma base, e é um bom incentivo e contribui muito para a formação de pesquisadores no futuro.

Quando perguntada sobre a participação no PJMA, a Diretora da Escola Intelecto, que também acompanhou a equipe na avaliação oral, considera que o prêmio Marcio Ayres é um marco para a Escola, que teve o privilégio de classificar dois trabalhos na IV Edição. O segundo trabalho classificado pela Escola Intelecto é da aluna Jacqueline de Sousa Miranda, que estudou as flores tropicais dos Jardins Botânicos do Museu Goeldi e do Bosque Rodrigues Alves.

Flores Tropicais - Orientador do segundo trabalho classificado da Escola Intelecto , focado nas flores tropicais encontradas nos Parque Zoobotânico do Museu Goeldi e no Bosque Rodrigues Alves, o professor José Sagica Junior, conta que a iniciativa para desenvolver a pesquisa partiu da aluna Jacqueline de Sousa Miranda – mas sua adesão ao concurso também se deve ao estímulo da colega professora Lorena Araújo.

A ideia inicial era fazer o trabalho em uma área próxima da escola, mas, em face da ausência de plantas tropicais nas cercanias, eles escolheram fazer uma análise comparativa entre a flora do Bosque Rodrigues Alves e o Parque do Museu Emílio Goeldi.

O método aplicado para pesquisa foi relativamente simples: fazer uma busca na bibliografia especializada e ir para o campo proceder a observação. O professor José destacou sua dificuldade em encontrar uma bibliografia regional especializada sobre o assunto, a solução encontrada por ele foi recorrer, então, ao que estava disponível na internet. Por sua vez, Jaqueline, a aluna, pontua que tem interesse em continuar com as pesquisas em botânica e que a escola lhe incentivou bastante neste estudo, além de ceder o espaço para as reuniões.

José Sagica opina que : “nunca se vai colher nada se não se incentivar a pesquisa escolar. Por isso o prêmio é importante, por esse incentivo que dá ao jovem pesquisador”.

Trabalho sobre Açaí - Uma família animada e afinada planejou um estudo sobre o açaí, o fruto amazônico considerado ouro negro pelo antropólogo francês Claude Lévi-Strauss e elemento importante na dieta alimentar do paraense. A ideia inicial da pesquisa partiu do aluno Denner Brito Ferreira, da 7ª série do Centro de Ensino Pleno Ideal da Cidade Nova, e de seu pai.

Inicialmente, a sua professora orientadora, Andrea Almeida, queria falar sobre adubos orgânicos, uma vez que já existe na escola um viveiro de orquídeas. Todavia, Denner é um interessado em frutas amazônicas. Ele já tinha feito pesquisas sobre este assunto para algumas feiras culturais da própria escola, como cupuaçu e muruci. Quando a professora Andrea falou do Prêmio, o aluno decidiu o tema açaí, aproveitando  a experiência vivida em uma viagem com a família até o município de Igarapé-Miri, polo de produção do fruto, para dar subsidio a sua pesquisa. Os pais, pedagogos, lhe deram muito apoio. Vivaz, o jovem Denner tem interesse de prosseguir na pesquisa.

Pesquisas do ensino médio

O Cupim dos Mangues - A aluna do colégio Lauro Sodré, Ana Paula dos Santos Borges, ganhadora do segundo lugar em 2008 com a pesquisa sobre a importância da mandioca para as comunidades amazônicas, este ano realizou um estudo com o tema “Turu: o cupim dos mangues”. Por considerar este um assunto pouco pesquisado, Ana Paula resolveu se dedicar para entender melhor esse molusco, que possui uma aparência nada apetitosa, mas cujo sabor é bastante apreciado pelos seus degustadores”.

Veterana, Ana Paula considera o Prêmio Marcio Ayres de “grande importância para todos os jovens que têm contato com ele, pois é uma oportunidade de mostrar que nós podemos fazer pesquisa”, explica a estudante.

Um bom motivo para estressar lesmas - Já o estudante Wescley Miguel da Silva, do grupo Educacional Ideal, que participa pela terceira vez do Prêmio, realizou a pesquisa “Atributos dermatológicos do muco da lesma aplicada em seres-humanos”. O jovem pesquisador conta que se interessou pelo assunto quando leu uma reportagem na internet sobre cosméticos a base de moluscos. Ele, então resolveu pesquisar as propriedades medicinais desses animais, cujo uso, sua avó, interlocutora assídua do jovem pesquisador, já havia citado em conversas anteriores.

Wescley conta que “com a pesquisa pode aprimorar conhecimentos científicos através do conhecimento tradicional amazônico”. Ele estudou o método utilizado em comunidades tradicionais para extrair uma substância produzida pela lesma em situações de estresse, além disso solicitou a três senhoras que fizessem uso do preparado e observou alguns efeitos na pele das mesmas.

Pteridófitas - Participando pela primeira vez do prêmio a estudante Rita de Cássia, da Escola Estadual Professora Albanizia de Oliveira realizou a pesquisa “Composição florística de pteridófitas em dois fragmentos florestais diferentes na reserva do Utinga Belém-PA”, orientada pelo professor Juraci da Silva.

A estudante conta que escolheu esse tema porque gosta de plantas e o Parque Ambiental do Utinga fica perto de sua casa, “então seria uma pesquisa mais prática e fácil”, esclarece Rita de Cássia. A aluna descreve a metodologia que empregou em sua pesquisa:, “Primeiro estudei o que eram as pteridófitas, o seu ciclo de vida, fui a campo e colhi 28 indivíduos e por último redigi o trabalho”, informa Rita.
Sobre o prêmio Rita de Cássia não esconde seu nervosismo e ansiedade, “Acho muito legal ter a oportunidade de participar do Prêmio, porque com essa pesquisa eu adquiri muito conhecimento. Mas confesso que estou muito ansiosa para saber o resultado”.


Texto: Joice Santos, Diego Santos, Lucila Vilar

 

[voltar]

 

Realização:                                                                                                                                                    Patrocínio:

Apoio: